domingo, 30 de novembro de 2014

Uma das letras mais lindas da música brasileira

Vambora - Por trás da Canção (Adriana Calcanhoto)
Entre por essa porta agora
E diga que me adora
Você tem meia hora
Pra mudar a minha vida
Vem, vambora
Que o que você demora
É o que o tempo leva
Ainda tem o seu perfume pela casa
Ainda tem você na sala
Por que meu coração dispara
Quando tem o seu cheiro
Dentro de um livro
"Dentro da noite veloz"
Ainda tem o seu perfume pela casa
Ainda tem você na sala
Porque meu coração dispara
Quando tem o seu cheiro
Dentro de um livro
"Na cinza das horas"

Leite Derramado



Ler ou reler o Chico Buarque por meio da obra “Leite Derramado” lançada em 2009 é uma sensação única. Lá se vão cinco e as palavras estão todas aqui. Se percebe um escritor com o domínio total de sua língua mãe. Uma escrita que flui naturalmente num monólogo de um senhor que no leito de morte conta/brinca/fala/diz sobre – simplesmente - duas décadas de nossa história brasileira. 

A visão do Chico Buarque em seu romance não é nada otimista – característica de suas outras obras - e pode até te incomodar. Mas não tira o sabor da palavra lida. A sutileza do sarcasmo. E definitivamente a provocação do escritor. Sigo a leitura do Leite Derramado. 

Em tempo: continuo defendendo “Estorvo” seu primeiro romance lançado em 1991 que resultou no também complexo e genial filme, de mesmo nome, dirigido pelo cineasta Ruy Guerra.

Obs: Ambos foram lançados pela Companhia das Letras.

Bloomsday na Santa Maria da Boca do Monte, RS, Brasil

O amigo e colega de Conselho da CESMA, Aguinaldo Medici Severino, organiza mais uma edição do Bloomsday, no Coração do Rio Grande. 16 de junho. Vamos lá.


(Luiz Alberto Cassol / publicado em junho de 2008)

domingo, 23 de novembro de 2014

Bradaram por todos os direitos e agora não defendem o principal: a Democracia!

(Publicado originalmente no site do jornalista Claudemir Pereira - www.claudemirpereira.com.br) 

Ficar no muro pode ser cômodo. Mas às vezes tu podes cair para um lado nada tranquilo, ideologicamente falando. Não. Não me refiro em um lado partidário. Escrevo sobre a ideologia de vida. Que é estar do mesmo lado desses seres raivosos e sem noção que pedem o retorno do regime militar e berram contra regiões do país.

Ficar vendo a vida passar e não tomar posição pode ser interessante para muitos. Mas, tem seu preço. Tem gente que fica no muro a vida inteira. Sobre qualquer assunto. Muita gente até tem opinião, mas prefere não tornar público. Discordo, mas respeito. Acho que cada um age da forma que julgar melhor. Outros se posicionam.

Nas eleições isso ficou muito transparente. Houve quem continuou no confortável murão e aconteceu de quem se mostrou. Tiveram posicionamentos mais exacerbados, outros menos. Eu defendi meu voto em Tarso e Dilma todo o tempo. O fiz com veemência, mas não faltei com o respeito a ninguém. E foi assim que agi com quem pensava o contrário.

Abre parêntese. Não sei se é natural, mas foi assim nessas eleições. Ficou evidente, só o fato de ter um lado fez com que muitos desfizessem as amizades virtuais ou reais. Se por um lado amizades foram desfeitas, por outro lado revelou quem não tolera ver a opinião contrária. Então é melhor desfazer a amizade do que agredir com todo o tipo de xingamento que se possa imaginar ter de ler.  Daí cabe a cada um tomar a decisão que supor necessária. De manter, ou não, a amizade nas redes sociais e na vida real.

Tive uma atitude na eleição. Postei o que julguei necessário em minha linha do tempo e não escrevi em postagens de outros que eram pró Aécio. Achei que seria um caminho certo. Hoje, tenho absoluta certeza que foi. Para ficar na eleição presidencial e no segundo turno, eu e milhares escolhemos a Dilma, e muitos outros, Aécio. Confesso que algumas pessoas que escolheram Aécio me surpreenderam, pois imaginava que pensassem de outra forma. No entanto, nosso respeito mútuo fez com que aceitássemos as postagens uns dos outros. Não ficando no famoso muro citado no início desse artigo. Fecha parêntese.

Depois da eleição um fato me incomoda muito nessas últimas semanas. Nas redes sociais durante o primeiro e o segundo turnos das eleições, teve gente se posicionando pelos direitos humanos, por benfeitorias sociais, pelo meio ambiente, por menos corrupção, mais saúde, mais educação e por aí vai.  Aliás, por tudo aquilo que a maioria de nós deseja.

Então, veio a contagem de votos e a presidenta Dilma se reelegeu para o regozijo de milhares de brasileiros e brasileiras. E, após eleita, democraticamente passa a ser a governante do Brasil. Isso é a democracia.

Após isso, começou uma enxurrada de mensagens repletas de ódio e preconceito aos nordestinos postados nas redes e em manifestações pontuais nas ruas.

Em paralelo, alguns seres humanos pedindo a volta do regime militar. Fomos capazes de ver em uma matéria televisiva a insanidade de um homem erguendo um cartaz pedindo “intervenção militar” e, logo atrás, uma mulher segurando outro cartaz onde estava escrito “quero dizer o que penso”. É a cena mais patética que vi numa tela de televisão. Num regime militar não tem “o que penso”. Tem o que eles pensam e cumpra-se!

Então, volto a minha análise: a maior parcela – grifo que não estou dizendo todos - que votou na Dilma se posicionou contra esses atos.

Pois bem, para minha surpresa, muitos que votaram no Aécio e que escreviam nas redes sociais, ou seja, tinham posição, agora não escreveram uma linha sequer contra isso. Grifo muitos, não todos. Não sei se ficaram sem graça, se foi o fato de o candidato ter sido derrotado. Realmente não sei.  Não! Não me tire para fiscal. É fato. Em minha percepção muitas pessoas que votaram no Aécio não pactuam com tais postagens raivosas, e penso que não se sintam a vontade para agora escrever.  Talvez o motivo que tangencie essa postura é ser adverso a quem venceu a eleição. Todavia se Dilma venceu no voto, na urna e na democracia porque os eleitores de Aécio não se revelam contra esses atos tristes, lamentáveis e senis?

Penso que o velho e bom muro foi a escolha de muita gente. Como falei no início cada um se comporta em uma eleição como quiser, eu respeito. O que não consigo entender é porque não houve uma enxurrada de pessoas pró Aécio que tivessem dito não a esses atos xenófobos e contra a democracia. 
Quero reiterar: os mesmos que se situaram nas redes sociais na época da eleição.

Acompanhei pessoas que bradaram por todos os direitos, mas que agora, de forma lamentável, não buscam defender o principal: a Democracia!!!


Luiz Alberto Cassol

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Impossível

A noite ficou enorme
Neste poema pequenino,
Como ficava, faz tempo,
O meu barco de papel
Nos meus olhos de menino.
Tornou-se longa e deserta
Como se fosse um caminho,
Onde gritei o seu nome
Sem poder fazer a rima
De você com o meu carinho.


(Prado Veppo - Obra Completa - 
Pedro Brum Santos e Vitor Biasoli - Org.)



terça-feira, 18 de novembro de 2014

Expo Lixo - Humor Consciente

Mais uma baita iniciativa do Máucio e do grupo que faz o Cartucho somado ao pessaol do Grupo da Estação e ao Desenho Industrial da Universidade Federal de Santa Maria. O humor dos cartunistas de Santa Maria e de outros pagos já nos permite momentos únicos pelo Cartucho - Encontro de Cartunistas Gaúchos. Somado a isso é motivo de aplausos a reflexão proposta por esta Exposição do convite ao lado. Dá-lhe!




















(Luiz Alberto Cassol / junho de 2009)

César Passarinho interpretava com a alma

Faço aqui uma reverência para aquele que, para mim, é o principal intérprete da música nativista, gaúcha... César Passarinho. Interpretava com a alma. Talento avassalador. Voz trêmula que fazia todos prestarem atenção ao que cantava. Faleceu em 1998, aos 49 anos, deixando clássicos não apenas para a música nativista. Para além dos pagos gaúchos, César Passarinho é um intérprete universal.

Abaixo dois videclipes da música Guri vencedora da 13º Califórnia da Canção Nativa de Uruguaiana, em 1983. Um video foi gravado no programa Galpão Crioulo da RBS TV, em 1984 e, o outro, na própria Califórnia citada.

Os intérpretes são César Passarinho (voz), Renato Borgeghetti (gaita) e Neto Fagundes (violão).

Segue a letra com composição de João Batista Machado e Júlio Machado da Silva Filho.

Guri

Das roupas velhas do pai queria que a mãe fizesse
Uma mala de garupa e uma bombacha e me desse

Queria boinas e alpargatas e um cachorro companheiro
Pra me ajudar a botar as vacas no meu petiço sogueiro

Hei de ter uma tabuada e o meu livro "Queres Ler"
Vou aprender a fazer contas e algum bilhete escrever Pra que a filha do seu Bento saiba que ela é meu bem querer
E se não for por escrito eu não me animo a dizer

Quero gaita de oito baixos pra ver o ronco que sai
Botas feitio do Alegrete e esporas do Ibirocai
Lenço vermelho e guaiaca compradas lá no Uruguai
Pra que digam quando eu passe saiu igualzito ao pai

E se Deus não achar muito tanta coisa que eu pedi
Não deixe que eu me separe deste rancho onde nasci
Nem me desperte tão cedo do meu sonho de guri
E de lambuja permita que eu nunca saia daqui




(Luiz Alberto Cassol / julho de 2009)

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

A Incógnita

Ninguém sabe se foi beijo,
Se foi chuva ou poesia.
Nasceu fundo e foi crescendo
Como luz e melodia.
Ninguém sabe se foi longe,
Se foi perto, de onde veio.
Tinha um ar que parecia
Um receio de pecado.
Tinha um mundo adivinhado
Que não fora descoberto.
Tinha sonhos prometidos
Há milhões de anos atrás!
E ninguém sabe se foi Lua,
Se foi noite ou fantasia.

(Prado Veppo - Obra Completa - 
Pedro Brum Santos e Vitor Biasoli - Org.)

domingo, 16 de novembro de 2014

Hoje, 29 de abril

Hoje, 29 de abril, participei de um programa de rádio como faço semanalmente quando estou nas quartas-feiras, em Santa Maria. Hoje, escrevi um texto para o Jornal Rascunho da CESMA. Hoje, recebi telefonemas e e.mails falando de trabalhos que estão em andamento e futuros. Hoje, falei com amigos... não lembro de muitas coisas. Hoje, chega ao final da tarde, ao final do dia.

Hoje, 29 de abril, é a data de aniversário de minha irmã Marcê Luisa.

E pela completa capacidade de não reverter algumas coisas é que resolvi postar isso num blog que pode ser acessado por várias pessoas. Os meus amigos, minhas amigas, sabem que falar de coisas tão pessoais não é o meu forte. Infelizmente um aneurisma cerebral, em 1997, fez com que ela saísse de meu convívio. Uma perda que jamais aceitei. Apenas, com o passar dos anos, passei a conviver sem jamais aceitar.

Marcê Luisa era Pediatra Neonatologista e revertou muitos casos. Dedicou boa parte de sua vida para estudar e salvar vidas.

O sorriso, a conversa e a amizade sincera e franca me fazem uma tremenda falta. Palavras não conseguirão refletir o que sinto. Acho que nem quero refletir nada disso. Então, escrevi aqui. Não sei o porquê. Resolvi escrever. Pronto.

Hoje, 29 de abril, ela faria 45 anos. Minha saudade e minha homenagem.

Marcê Luisa foi uma pessoa maravilhosa! Marcê Luisa é uma pessoa maravilhosa!


(Luiz Alberto Cassol / abril de 2009)

Que crônica do Canellas!

Sobre o velho que encontrei

Encontrei o Velho sob os escombros de seu passado. Ele agonizava, arfando o peito em devaneios incompreensíveis. Fiz menção de retirá-lo, tentando arrastar seu corpo fraco para fora. Mas ele me ordenou que parasse. Então pontificou, lívido de remorso:

“Tenho saudades do que não fui. E daquele telefonema que não dei. O beijo que faltou ainda está acuado no desvão dos gestos perdidos. E aquela palavra não dita ecoa no corredor gelado e mudo do mal-entendido. Nenhum minuto passa impunemente. E o que era antes traz agora as escaras do tempo acontecido.

Arquivo o alumbramento da surpresa de que não me permiti desfrutar. Está em alguma gaveta do sentir, emperrado no fundo falso de um medo qualquer. E todos os receios camuflam a vida por detrás das obviedades da rotina. Aquele dia em que não saí na chuva para não me resfriar, em que não bati o pênalti para não errar, em que não cantei para não desafinar foi um dia sem riscos. Mas foi também um dia sem cor, tão imperceptível e pálido que talvez nem tenha existido como dia. Foi apenas um nada no caminho da existência.

Guardo no meu baú as boas máscaras que não usei. Sim, há máscaras que são boas, pois mais revelam que escondem. Como no teatro medieval, em que se distribuem papéis marcados e consentidos, mas que podem ser trocados de modo a troçar da narrativa esperada e subvertê-la antes do fim. Não para confundir. Muito mais para intrigar e conferir alguma graça ao devir. A mesma e insípida cara – para não causar sobressaltos diante do espelho! – é que serve para enganar e iludir.

Num descuido, esbarro no meu jarro de desculpas esfarrapadas. Os estilhaços se espalham pelo chão. E então posso ver o caldo escuro da falta de dinheiro, da falta de tempo, da preguiça, das mentirinhas benignas que viraram incômodos tumores de cujo desconforto não consigo me livrar.”

Disse isso e depois morreu. O velho se foi sem luto. Sem choro de ninguém. E eu corri de pés descalços, me atirei na lama, fui a um parque de diversões. Telefonei para o meu irmão. Dei um beijo na minha amada. Comi quindim de madrugada. Ao fenecer, aquele velho me salvou.

jornalista

marcelocanellas@uol.com.br

sábado, 15 de novembro de 2014

Troféu Sergio de Assis Brasil

Prezad@s, compartilho aqui o texto que apresentei quando da homenagem recebida ontem, terça-feira, 06 de dezembro de 2011, pela Câmara de Vereadores de Santa Maria e pelo Conselho Municipal de Cultura de Santa Maria. Receber o Troféu Sergio de Assis Brasil fui um momento de emoção que misturou reflexão, saudade e alegria. Agradeço. Para sempre! 
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Senhoras e senhores, boa noite.

Saúdo o presidente em exercício da Câmara de Vereadores de Santa Maria, o Sr. Admar Pozzobon.

Saúdo e agradeço a vereadora e amiga Helen Cabral, que apresentou o Projeto de Lei para o Troféu Sergio de Assis Brasil.

Gostaria de saudar aqui o amigo vereador Werner Rempel, com quem compartilho em muitas manhãs de sábado, entre um chimarrão e outro, um bom bate-papo sobre cinema, cineclubismo, fotografia e política na nossa CESMA, a Cooperativa dos Estudantes de Santa Maria Ltda, orgulho de todos os seus quarenta mil associados, e todos os que acreditam no cooperativismo, na cooperação como formas de fazer um dia a dia mais justo e pleno de cidadania.

Ao saudar os vereadores citados, saúdo aos demais vereadores e autoridades que aqui prestigiam este ato.

Também gostaria de saudar minha família. A Juliana Brisola, minha prima, a meu tio, Carlos Brasil Pippi Brisola e a minha mãe Terezinha Doroty Brizola Cassol.

O Troféu Sérgio de Assis Brasil já foi entregue a cineasta santa-mariense Carolina Berger, a quem saúdo com meus aplausos pelo merecido reconhecimento.

Carolina, eu e tantos outros temos algo em comum. O fato de termos sido incentivados pelo Sergio, para que nossas vidas fossem para o cinema.

Faço aqui meu reconhecimento ao querido Sergio de Assis Brasil, que, infelizmente, ao final desse mês, completará 04 anos de sua morte.

Sergio foi um guerreiro e um sonhador. Sonhou fazer cinema em Santa Maria e fez. Produziu e dirigiu curtas e médias metragens, videoclipes, séries para a televisão e comerciais e teve a coragem e a ousadia de lançar o primeiro longa-metragem santa-mariense, com equipe e elenco local. Falo do filme “Manhã Transfigurada”, baseado na obra do escritor Luiz Antônio de Assis Brasil.

Foi através daquele filme que ele formou uma geração de pessoas que passaram a trabalhar na área audiovisual.

Conheci o Sergio pessoalmente num curso pioneira de extensão sobre cinema e televisão que a UFSM ofertou em1995.

Pois após aquele curso de 1995, emblemáticamente, ano que se celebrou os 100 anos do cinema, comecei a trabalhar na área. E talvez o momento mais importante para mim, foi quando o Sergio levou latas de filmes para a sala de aula e pediu que todos cheirassem os rolos de película e daí disse: “sintam, isto é cheiro de cinema”. Pronto. Bastou. Serei eternamente grato ao Sergio por aquele momento.

Eu já era um cinéfilo de carteirinha. Mas foi o Sergio que me impulsionou para transformar e possibilidade de assistir em também fazer cinema e televisão. Foi por ter me dito: “Luiz” – era assim que o Sergio me chamava – “tens que trabalhar com cinema, com vídeo, com televisão”.

Pronto, alguns dias depois estava eu, então estudante de Administração de Empresas da UFSM, integrando a primeira equipe da TV CAMPUS. Aliás, primeira televisão de uma Universidade Pública do interior do país.


E alguns meses depois apresentava meu primeiro comentário de cinema na televisão. Comentário que gravei na então cabine de projeção do nosso saudoso Cine Glória, onde por algumas vezes assistia três filmes no mesmo dia.

Foi nesta cabina que tremendo gravei o comentário. Muito obrigado Sergio! Dizer “vamos de novo”, “tente outra vez”, foram algumas de tuas palavras de impulso que me fizeram chegar até aqui e poder hoje receber esta honraria que leva o teu nome.

Saúdo neste momento a Anamaria Assis Brasil, artista plástica e esposa do Sérgio que criou o troféu a ser recebido e, a sua filha Renata Assis Brasil, presentes neste ato.

Agora, compartilho com vocês um texto que embasou meu primeiro comentário de cinema na televisão, em 1995. Trata-se de um texto do cineasta Russo Andrei Tarkovski, retirado do livro “Esculpir o Tempo”. Uma bíblia do cinema e para o cinema.

Aliás, antes de dividir o texto, me permitam mais uma questão pessoal, este livro ganhei da Eluza Rafo, autora do conto “Cheiro de Terra”, o qual adaptei ao cinema em meu primeiro filme em 35mm, “Fome de Quê”. Eluza é a mãe de minha filha Maria Luiza e que para a nossa alegria, desde a barriga da mãe e hoje com sete anos de idade já uma cineclubista e cinéfila, indo a todas as edições do Festival Santa Maria Vídeo e Cinema, desde que nasceu. Aliás, desde a barriga da mãe.

Vamos ao texto:

Amo muito o cinema. Eu mesmo ainda não sei muita coisa: se, por exemplo, meu trabalho corresponderá exatamente à concepção que tenho, ao sistema de hipóteses com que me defronto atualmente. Além do mais, as tentações são muitas: a tentação dos lugares-comuns, das idéias artísticas dos outros. Em geral, na verdade, é tão fácil rodar uma cena de modo requintado, de efeito, para arrancar aplausos... Mas basta voltar-se nesta direção e você está perdido. Por meio do cinema, é necessário situar os problemas mais complexos do mundo moderno ao nível dos grandes problemas que, ao longo dos séculos, foram objetos da literatura, da música e da pintura. É preciso buscar, buscar sempre de novo, o caminho, o veio ao longo do qual deve mover-se a arte do cinema.

Como disse, este texto foi escrito por Andrei Tarkoviski, um dos mais polêmicos cineastas da história do cinema. Deixou uma obra marcada pela radicalidade estética e narrativa. Mas acima de tudo uma obra que faz pensar o cinema e suas múltiplas possibilidades.

Lá se vão 25 anos da morte deste genial cineasta russo. No entanto, seus filmes e seus textos são contemporâneos e ameaçadores a uma estética muitas vezes massificada por uma única forma de ver o cinema. Uma forma hegemônica, muitas vezes morna e sem sal.

A forma hegemônica a que me refiro são os filmes norte-americanos que invadem nossas televisões e as salas de cinema comercias, através de contratos que esfacelam a possibilidade da escolha e exibem única forma de ver e entender o audiovisual. Impondo, dizendo: assistam! Não Pensem!
Não, prezadas e prezados. Não estou aqui cravando um bandeira ante o imperialismo cinematográfico americano. Estou apenas querendo compartilhar uma reflexão. Gosto de um bom filme, de um bom debate, sou um cineclubista e um diretor que acredita que o cinema pode transformar, pode entreter, pode tudo.

Mas, quero e que as mais diferentes cinematografias cheguem até nós. Desejo que possamos ter acesso às produções audiovisuais das mais diferentes nações. É preciso ter acesso e democratizar o acesso para poder pensar o mundo além de roteiros pré-fabricados, prontos para serem empacotados ou enlatados, tal como uma música de três notas e com letra de fácil apelo.

Quero ver o cinema brasileiro em nossas telas e nas telas de outros países ao mesmo tempo que desejo ver os trabalhos de cineastas de todo o mundo.

Para piorar este situação apenas 10% da população no Brasil tem acesso aos cinemas de shopping, que além de preços abusivos no valor do ingresso, impõem esta fórmula tradicional de exibição. Então, o que fazem os outros 90%? Só não estão alijados do acesso aos filmes pois Cineclubes, Clubes de Cinema, Festivais e Salas Culturais de Cinema possibilitam isto.

Defendo veementemente a valorização dos Cineclubes no Brasil, centenas de espaços exibindo as mais diferentes cinematografias e proporcionando o debate, tudo com entrada franca. Fui forjado neste movimento e me orgulho de ser o atual presidente de nosso Conselho Nacional de Cineclubes Brasielrios – CNC. Divido esta homenagem com cineclubistas que de forma voluntária proporcionam ao público todas as manifestações audiovisuais.

Lembro que hoje esta homenagem passa por meu trabalho no Festival Santa Maria Vídeo e Cinema.

Mas esta história vem de outras pessoas e iniciativas. Destaco algumas:

O Clube de Cinema de Santa Maria organizado na metade dos anos 1950 pelo saudoso teatrólogo santa-mariense Edmundo Cardoso. O Clube de Cinema teve atividades durante 10 anos.

Também destaco o Festival Regional de Super-8 organizado em 1975 pelo amigo Luis Carlos Grassi, aqui presente, e outros realizadores de cinema Super-8, na cidade, entre eles, Sergio de Assis Brasil. Grassi é o atual presidente da Estação Cinema – Associação dos Profissionais de Cinema de Santa Maria.

Ainda lembro da professora Rhea Sylvia Gartner que organizou três edições do Festival Conesul in Vídeo no início dos anos 1990.

Ainda me reporto ao fato de em 1978, quando da criação da CESMA, também foi fundado o Cineclube Lanterninha Aurélio, que mantém suas exibições até hoje.

Finalizo lembrando dos nomes das 07 pessoas que me somei para criar a ONG Santa Maria Vídeo e Cinema, que realiza o Festival de Santa Maria.

Se recebo a homenagem hoje é graças a eles: Carlos Alberto Badke, Orlando Fonseca, Marcos Borba, Cesar Oliveira, Luciano Ribas e Christian Ludtke.

Não estando na ONG se somam a eles, a Juliane Fossatti, produtora do festival, que por seu trabalho torna possível esta edição.

Por fim destaco o Clayton Coelho, falecido prematuramente este ano e ao qual o festival presta homenagem criando o Prêmio Clayton Coelho de Direitos Humanos, causa pela qual o Clayton militava. No sábado, no encerramento do festival, o nosso amigo aqui da Câmara de Vereadores, Beto São Pedro fará a entrega do prêmio.

Agradeço aqui a presença da Dona Eloá, mãe do Clayton, que me dá a honra da presença.

Com eles agradeço a todas e todos que colaboraram na trajetória do festival e também na minha, que certamente começou em 1976, quando aos sete anos de idade, fui levado pela Terezinha Doroty Brizola Cassol, minha mãe, para assistir ao filme “Marcelino Pão e Vinho”, no Cine Independência.

Muito obrigado.

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(Mais sobre no texto da jornalista Jaiana Garcia e foto de Marcelo Cabala em www.smvc.org.br)


(Luiz Alberto Cassol / novembro de 2011.)

O meu primeiro filme

O lançamento de um filme ou vídeo que produzimos sempre é um momento único para a equipe. Na segunda-feira aconteceu a primeira exibição do "Fome de Quê?", curta-metragem que dirigi e que marca uma estréia em 35mm, já que foi captado em vídeo e após o transfer ganhou os fotogramas da película. A partir da sexta-feira o filme entra em cartaz em Santa Maria, na Movie Arte Cinema, conjuntamente com o longa “Valsa para Bruno Stein”, do diretor Paulo Nascimento.

Independente dos conceitos de gostar ou não gostar da história de “Fome de Quê?” – o que cabe ao espectador - estou agradecido pelo fato da fruição que o filme despertou nos espectadores presentes na estréia. Esse momento único do contato do espectador com a grande tela, dentro da sala escura, produz as mais diferentes reações, externadas e tantas outras não. Muitas que ficam em nosso inconsciente e que não manifestamos. Outras conscientes que nem reagimos. A história de cada assistência a um filme é o momento de maior intensidade, de todo o tipo de reação.
O curta é o resultado coletivo do trabalho de muitos. São assim os filmes. Resultados da união de pessoas em torno de um trabalho.

“Fome de Quê” tem um significado muito especial. Trata-se de uma adaptação do conto "Cheiro de Terra", da Eluza Rafo, escrito em 2000, que desde a primeira vez que o li me arrebatou. Eluza também assina a produção executiva do filme.

Essa é à hora de agradecer todo o empenho e dedicação do ator Joel Cambraia. Os laboratórios de preparação do personagem, coordenados pela atriz Denise Copetti, fizeram com que ele se entregasse ao papel de Zé - na infância, Zezinho. Os exercícios e testes de câmera que pude fazer durante esses laboratórios criaram uma sinergia muito especial para que no dia da gravação o ator estivesse com o personagem pronto.

A parceria com o Christian Lüdtke, diretor de fotografia que participou do processo de finalização e também da produção executiva, e com o Gerson Rios Leme, autor da trilha sonora e desenho de som, foi muito importante para chegarmos a um resultado final de acordo com o que tínhamos pensado. Foram muitas conversas e reuniões estudando o roteiro e o processo após as gravações.

Tenho uma relação fortíssima com esse filme. Foram alguns anos de minha vida para fazê-lo chegar ao público. São 13 minutos que dedico a minha irmã Marcê Luisa, amiga e confidente, que faleceu em 1997. Também agrego a isso a relação direta e visceral que tenho com o curta onde convidei minha mãe para fazer a voz off da avó de Zezinho.

O mais legal do lançamento foi ver Maria Luiza, minha filha, com quatro anos recém completados correndo para todos os lados antes da sessão de estréia começar.

Agradeço para toda a equipe e a todos que me ajudaram a fazer o “Fome” chegar na tela.

Valeu.



Abaixo segue o release completo de divulgação do filme.

Assista nas salas do Movie Art Cinemas, no Santa Maria Shopping, às 16h45min, 19h e 21h o curta-metragem Fome de quê? conjuntamente com o longa-metragem Valsa Para Bruno Stein, de Paulo Nascimento.

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Nessa sexta, 27 de junho, entra em cartaz em Santa Maria, o curta-metragem “Fome de Quê?”, dirigido por Luiz Aberto Cassol e   produzido em Santa Maria, pela Finish Produtora.

A exibição do curta-metragem ocorrerá antes da exibição do longa-metragem “Valsa para Bruno Stein”, do cineasta Paulo Nascimento.  A parceria oportuniza ao público conferir uma produção santa-mariense nas salas da Movie Art Cinemas, no 4º andar do Santa Maria Shopping.

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Sobre “Fome de Quê?” (Brasil, 35mm, 2008)

O filme é uma adaptação de Cassol para o conto Cheiro de Terra, de Eluza Rafo. A história é um questionamento à indiferença da sociedade em relação aos que vivem nas ruas como apresenta a sinopse: “A sociedade acredita que eles nasceram assim... nas ruas. Zé é um deles. Ninguém sabe de sua vida. Todos vão e vêm e ninguém o vê. Ele tem passado. Têm fome. Fome de quê?”

O protagonista, Zé, é interpretado pelo ator santa-mariense, Joel Cambraia, que regrediu à infância de seu personagem em  laboratórios coordenados pela atriz Denise Coppetti e pelo diretor Luiz Alberto Cassol. Também participa do curta o filho de Joel Cambraia, o menino Igor Oliveira Machado.

As cenas externas foram realizadas no centro de Santa Maria, na esquina da Rua Venâncio Aires com a Av. Rio Branco, onde inúmeros figurantes participaram de algumas delas, coordenados por quatro produtores.

Fome de Quê? é uma adaptação do conto Cheiro de Terra, escrito em 1999 por Eluza Rafo que também divide o roteiro com Cassol.

O filme é uma realização da Finish Produtora com apoio da Lei de Incentivo à Cultura – LIC de Santa Maria.

Ficha Técnica:
Adaptação do conto Cheiro de Terra de Eluza Rafo

Elenco: Joel Cambraia, Igor Oliveira Machado, Terezinha Doroty Brizola Cassol
Direção e Roteiro: Luiz Alberto Cassol
Direção de Fotografia: Christian Lüdtke

Direção de Produção: Carolina Berger

Montagem: Lucas Mori Flores

Trilha Sonora: Gerson Rios Leme

Finalização: Christian Ludtke e Evandro Rigon

Assistente de Direção: Bebeto Badke  e Éder Amaral de Castro

Continuidade e claquete: Dafne Pedroso

Preparação de Elenco, Figurino e Maquiagem: Denise Copetti

Operador de Câmera: Marcos Borba

Desenho de Som: Gerson Rios Leme

Chefe de Elétrica: Evandro Rigon

Assistentes de Elétrica:Marcelo Rech e Alexsandro de Oliveira

Still: Juliano Pacheco da Luz

Coordenação de Figuração: Ênio Savaris, Juliane Fossatti, Leonardo Roat, Luiz Fernando Marques e Rafael Sieg

Coordenação de Veículos em Cena: Ricardo Ravanello

Assistentes de Produção: Alexandre Soares, Andréia Zanuello, Daniel Leal, Giovane Novotny, Talia Rissman, Mateus dos Santos, Pedro Nascimento e Robson Brilhante

Transporte: Reni Aquino Schites - Itararé Tur

Material gráfico: Luciano Ribas, a partir da obra de Jaci Lüdtke

Produção Executiva: Christian Lüdtke, Eluza Rafo e Luiz Alberto Cassol


(Luiz Alberto Cassol / junho de 2008)

Augusto dos Anjos

Minha amiga Déia Zanoello lembrou em seu facebook que hoje é o Dia Nacional da Poesia. Bueno, isso acontece em função da data de nascimento de nosso poeta Castro Alves. 

Divido um poema daquele que admiro com um dos principais poetas brasileiros, por ter escrito, literalmente, de forma visceral: Augusto dos Anjos. Então, seguem seus 

"Versos Íntimos"

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!


(Luiz Alberto Cassol / março de 2012)

Febre do Rato: fora do controle narrativo tradicional

A exibição do filme "Febre do Rato" e o debate com o diretor Cláudio Assis e a atriz Mariana Nunes, mediado no jeito apropriado pelo jornalista Daniel Feix, deram um momento único e visceral (sim, mais uma vez a mesma palavra que uso) para o público que lotou a sala Paulo Amorim, da Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre, nesta quinta, 15 de março.


Foi uma sessão cineclubista

Assis falou o que queria e do jeito que desejava. Da mesma forma Mariana. E Feix, deixou tranquilamente o debate acontecer naturalmente.
 
Assis faz um cinema próprio e ao mesmo tempo universal. Sessão simbólica e emblemática para pensarmos nosso cinema. Divido com os amigos Amarello Rodrigues e Bruno Kieling e tod@s @s que tiveram por lá essa tela de narrativa colorida, feita toda em preto e branco.

Debate e exibição promovidos pela Panda Filmes, com entrada franca, dentro do Festival de Verão do RS de Cinema Internacional.


(Luiz Alberto Cassol / dezembro de 2012)

A carta de Miruna Genoino em defesa do pai


A coragem é o que dá sentido à liberdade
Com essa frase, meu pai, José Genoino Neto, cearense, brasileiro, casado, pai de três filhos, avô de dois netos, explicou-me como estava se sentindo em relação à condenação que hoje, dia 9 de outubro, foi confirmada.
Uma frase saída do livro que está lendo atualmente e que me levou por um caminho enorme de recordações e de perguntas que realmente não têm resposta.
Lembro-me que quando comecei a ser consciente daquilo que meus pais tinham feito e especialmente sofrido, ao enfrentar a ditadura militar, vinha-me uma pergunta à minha mente: será que se eu vivesse algo assim teria essa mesma coragem de colocar a luta política acima do conforto e do bem estar individual? Teria coragem de enfrentar dor e injustiça em nome da democracia?
Eu não tenho essa resposta, mas relembrar essas perguntas me fez pensar em muitas outras que talvez, em meio a toda essa balbúrdia, merecem ser consideradas...
Você seria perseverante o suficiente para andar todos os dias 14 km pelo sertão do Ceará para poder frequentar uma escola? Teria a coragem suficiente de escrever aos seus pais uma carta de despedida e partir para a selva amazônica buscando construir uma forma de resistência a um regime militar? Conseguiria aguentar torturas frequentes e constantes, como pau de arara, queimaduras, choques e afogamentos sem perder a cabeça e partir para a delação? Encontraria forças para presenciar sua futura companheira de vida e de amor ser torturada na sua frente? E seria perseverante o suficiente ao esperar 5 anos dentro de uma prisão até que o regime político de seu país lhe desse a liberdade?
E sigo...
Você seria corajoso o suficiente para enfrentar eleições nacionais sem nenhuma condição financeira? E não se envergonharia de sacrificar as escassas economias familiares para poder adquirir um terno e assim ser possível exercer seu mandato de deputado federal? E teria coragem de ao longo de 20 anos na câmara dos deputados defender os homossexuais, o aborto e os menos favorecidos? E quando todos estivessem desejando estar ao seu lado, e sua posição fosse de destaque, teria a decência e a honra de nunca aceitar nada que não fosse o respeito e o diálogo aberto?
Meu pai teve coragem de fazer tudo isso e muito mais. São mais de 40 anos dedicados à luta política. Nunca, jamais para benefício pessoal. Hoje e sempre, empenhado em defender aquilo que acredita e que eu ouvi de sua boca pela primeira vez aos 8 anos de idade quando reclamava de sua ausência: a única coisa que quero, Mimi, é melhorar a vida das pessoas...
Este seu desejo, que tanto me fez e me faz sentir um enorme orgulho de ser filha de quem sou, não foi o suficiente para que meu pai pudesse ter sua trajetória defendida. Não foi o suficiente para que ganhasse o respeito dos meios de comunicação de nosso Brasil, meios esses que deveriam ser olhados através de outras tantas perguntas...
Você teria coragem de assumir como profissão a manipulação de informações e a especulação? Se sentiria feliz, praticamente em êxtase, em poder noticiar a tragédia de um político honrado? Acharia uma excelente ideia congregar 200 pessoas na porta de uma casa familiar em nome de causar um pânico na televisão? Teria coragem de mandar um fotógrafo às portas de um hospital no dia de um político realizar um procedimento cardíaco? Dedicaria suas energias a colocar-se em dia de eleição a falar, com a boca colada na orelha de uma pessoa, sobre o medo a uma prisão que essa mesma pessoa já vivenciou nos piores anos do Brasil?
Pois os meios de comunicação desse nosso país sim tiveram coragem de fazer isso tudo e muito mais.
Hoje, nesse dia tão triste, pode parecer que ganharam, que seus objetivos foram alcançados. Mas ao
encontrar-me com meu pai e sua disposição para lutar e se defender, vejo que apenas deram forças para que esse genuíno homem possa continuar sua história de garra, HONESTIDADE e defesa daquilo que sempre acreditou.
Nossa família entra agora em um período de incertezas. Não sabemos o que virá e para que seja possível aguentar o que vem pela frente pedimos encarecidamente o seu apoio. Seja divulgando esse e/ou outros textos que existem em apoio ao meu pai, seja ajudando no cuidado a duas crianças de 4 e 5 anos que idolatram o avô e que talvez tenham que ficar sem sua presença, seja simplesmente mandando uma palavra de carinho. Nesse momento qualquer atitude, qualquer pequeno gesto nos ajuda, nos fortalece e nos alimenta para ajudar meu pai.
Ele lutará até o fim pela defesa de sua inocência. Não ficará de braços cruzados aceitando aquilo que a mídia e alguns setores da política brasileira querem que todos acreditem e, marca de sua trajetória, está muito bem e muito firme neste propósito, o de defesa de sua INOCÊNCIA e de sua HONESTIDADE. Vocês que aqui nos leem sabem de nossa vida, de nossos princípios e de nossos valores. E sabem que, agora, em um dos momentos mais difíceis de nossa vida, reconhecemos aqui humildemente a ajuda que precisamos de todos, para que possamos seguir em frente.
Com toda minha gratidão, amor e carinho,
Miruna Genoino
09.10.2012

Sobre a Feira do Livro de Santa Maria 2012

A partir de uma nota publicada no sítio do jornalista Claudemir Pereira - claudemirpereira.com.br - nesta sexta, 09 de março, na Luneta Eletrônica, me permito fazer um comentário sobre a Feira do Livro de Santa Maria 2012 / RS / Brasil.
"Espero, sinceramente, que toda a comunidade e o poder executivo saibam da importância da Feira do Livro, o maior evento cultural de Santa Maria. Isto é: valorizar desde sempre, sem discursos salvadores no palanque de abertura. Não queremos, mais uma vez, na última hora uma correria para colocar a Feira na Praça. Sem tergiversar: que a nossa Feira do Livro tenha o devido reconhecimento. É bom para tod@s: chimangos e maragatos, gregos e troianos, gremistas e colorados."
(Luiz Alberto Cassol / março de 2012)


Isa

Hoje, 29 de abril, minha irmã Marcê Luisa completaria 49 anos. Divido isso, pois meu sentimento pela Isa é tão terno e companheiro, que deve ser dito e compartilhado. Viva a quem amamos e confidenciamos boa parte de nossas vidas.


(Luiz Alberto Cassol / abril de 2013)

Uma pequena homenagem

Faz 25 anos que faleceu. Muitos diziam que tinha a idade para ser meu avô. Sempre discordei. O que existe é a forma como se dá a relação. A afetividade. O amor não imposto. Sim, sentido. Teve muitos acertos e erros como qualquer ser humano. Faleceu no ano que eu faria 19 anos. Confesso que eu tinha muito para perguntar e muito ainda a aprender com ele.

Sujeito diferente era. Poderia ficar horas e horas introspectivo. Ao final dessa introspeção eu quase sempre fazia uma pergunta. Vinha ali uma experiência. Um relato. O impacto da narrativa nos tornava cúmplices desse intercâmbio de silêncios e palavras.

Uma cumplicidade dilacerante, vívida e terna. Que ficou entre nós.

Vez por outra abro essa caixa para rever aqueles momentos nossos. Não chorar fica impossível. E sorrir por demais também é imperioso.

Agradeço muito do que me foi revelado. Do que me foi aconselhado. Sobretudo, agradeço o afeto. E sua forma de me proporcionar momentos raros. Que aqui estão comigo. Para sempre.

Viajar para ver os tios e tias. Dizer que já estávamos chegando. É  logo ali depois do morro. Cantarolar comigo, minha irmã e minha mãe enquanto o morro não era transposto.  Hastear a bandeira do Grêmio, em frente da casa, na Rua Serafim Valandro, nos domingos de Grenal. Jogar bolita. Ouvir rádio AM. Colocar um vinil na eletrola. Comer pitangas apanhadas direto da árvore. Subir em árvores. Me deixar fazer gols nos trepidantes jogos de futebol nas goleiras de tijolos do pátio. Eu falar das primeiras paixões. Escutar. Enfim...

Momentos vividos. Experiências compartilhadas. Te agradeço, pai, nesse 12 de julho, data de teu nascimento.

Lembro do que escrevi no início dessa pequena homenagem. O que existe é a forma como se dá a relação. A afetividade. O amor não imposto. Sim, sentido. Então, acrescento. Paternidade.

Então, hoje, Marcelino Luiz, quero dizer que sinto muito tua falta. Falta do meu pai. Dos momentos que não vivemos em função da tua morte. Só que me sinto muito, muito feliz, pelos 19 anos que vivi contigo. E que fizerem ser muito do que sou.

Valeu pai!


(Luiz Alberto Cassol / julho de 2013.)

Agradecimento

Na noite da última sexta-feira, 19/04/2013, tivemos mais uma Assembleia Geral nCesma Santa Maria - Cooperativa dos Estudantes de Santa Maria Ltda. Houve renovação de parte do Conselho Administrativo e Fiscal e a escolha da nova Diretoria.

Foram eleitos (foto): Luiz Geraldo Cervi (Presidente), Ronai Rocha (Vice-Presidente) e Gilvan Veiga Dockhorn (Secretário). Parabéns aos novos diretores, conselheiros que ficam e aos que chegam.

Agradeço a todas e todos colaboradores, colaboradoras, associados, associadas, conselheiros e conselheiras da Cooperativa, pelas duas gestões que tive a honra de presidir, na parceria com Luiz Geraldo Cervi (Vice-Presidente) e Aguinaldo Severino (Secretário).
Encerrar este momento é significativo: são 35 anos de Cooperativa e mais de 41 mil associados e associadas que se somam na forma coletiva de ver o mundo. E que mantém um Cineclube, desde sua criação, em 1978.

Cineclube Lanterninha Aurélio é o debate, a assistência, a fruição que a CESMA celebra em imagens, instigando um mundo mais colaborativo e menos egoísta e umbilical.

Ser sócio da CESMA é uma honra para qualquer pessoa. É um projeto raro de cooperativismo, compartilhamento e associativismo radicais, que são levados de forma coerente, libertária e inclusiva. Um projeto que deu mais do que certo!

Estar presidente da CESMA foi uma honra, porém, menor, bem menor, em relação a participar destes 41 mil associados e desse visceral forma de tratar a economia de forma solidária e integrativa. Ressalto aqui, que todos e todas as conselheiras, conselheiros e diretoria, não recebem remuneração e colaboram de forma voluntária.

Tudo começou em 1978 e vamos até... muito, muito tempo. Quem sabe até quando? Para mim, a CESMA existirá para sempre. Utopia? Não, constatação de uma realidade.
Esse texto, escrito de improviso, de primeira, é para externar o que palavras não se apropriam facilmente. É sentimento: de pertencimento, colaboração e vida!

E, também de agradecimento a todos os colaboradores e colaboradoras da Cooperativa, quem também são associados, que fazem o dia a dia da mesma. Sintetizo meu abraço para elas e eles, no Télcio Brezolin e no Gilmar Sartori, com quem aprendi muito e a quem agradeço. Obrigado à turma da CESMA. Estamos juntos, sempre! Cassol

(Luiz Alberto Cassol / abril de 2013)

A raridade de um exemplo de cidadania e coerência política

Sem leituras rápidas e coerentes. Sem paixões ideológicas ou partidárias. Sem raiva. Pronto. Se chegar até aí me diga quais exemplos que temos de um chefe de poder executivo que, mesmo após uma derrota - democrática nas urnas - segue buscando uma saída histórica para um problema crônico que assolava o estado há anos.  Resposta: Tarso Genro.

Ao contrário de ficar lamentando a derrota, sem tergiversar, disse na primeira fala após o resultado das urnas que fora eleito até dezembro e que honraria seu governo. Demonstra ser um estadista a cada atitude e decisão. 

E ontem liderou nacionalmente a Renegociação da Dívida do Rio Grande do Sul e esteve na coordenação de outros chefes de executivo para chegar a um resultado histórico para todos.

Tarso Genro não tem covardia em seu vocabulário.  Não fica no conforto de não emitir respostas concretas às demandas da população, a partir de uma derrota eleitoral.  Tampouco deixa de tratar de um tema estratégico para a governabilidade do RS. Assunto para lá de complicado para quem, democraticamente, irá ser o governador nos próximos quatro anos.

Tarso Genro é motivo de orgulho aos sul-rio-grandenses de como exercer um governo exemplar em sua responsabilidade cidadã e plural, ao tratar todas as áreas de forma igualitária.


(Luiz Alberto Cassol / novembro de 2014.)

Marcha

A caminhada prosseguia resoluta no domingo pela manhã. A grande avenida estava praticamente vazia. Eram cerca de cem pessoas entre adultos, jovens e crianças no colo dos pais. Ao longe um carro surgiu. A caminhada vagarosa. O veículo lentamente de encontro à mesma. Os cânticos, frases e palavras continuavam. O carro também. Os primeiros da marcha diminuíram a velocidade dos passos. O efeito se projetou aos demais. Não identificavam ninguém dentro do carro. Vacilantes, os que estavam à frente avançavam. Os demais os seguiram. O veículo também preservou seu curso. Agora, avistavam a parte interior do carro. Parecia não haver ninguém. Aproximaram-se mais. Identificaram que o banco dianteiro do carro, do lado do motorista, estava inclinado totalmente para trás. O carro parou. A marcha também. No lugar do motorista enxergaram algo como roupas que se mexiam. Parecia estar sobre a barriga de quem dirigia. A marcha emudeceu, do início ao fim, em um efeito cascata. Do lado do motorista a porta se abriu. Braços vagarosamente colocaram, entre a porta e o carro, um volume de roupas e panos que se moviam brandamente. A marcha estática. Agora, todos presenciavam que dentro do automóvel, uma pessoa estava deitada até o ponto onde pudesse ter o mínimo de visão para dirigir. O carro partiu de forma acelerada. Os primeiros da fila cercaram o volume deixado pelo motorista. Os demais seguiram os primeiros. Um grande círculo se formou no entorno do embrulho de roupas deixado pelo misterioso carro. Novamente, os primeiros chegaram bem próximos e desfizeram parte das roupas e tecidos daquele embrulho. Foi ali então que viram o rosto do bebê. O corpo se debatendo contra aquelas muitas roupas e pequenos lençóis que lhe incomodavam os movimentos. Todos incrédulos. Passaram-se minutos. O choro intercalado com sussurros e gemidos do recém-chegado era o único som. Então, os que estavam mais próximos se afastaram. Assumiram novamente as primeiras filas da marcha. E os demais sem questionar fizeram o mesmo. A marcha pô-se a caminhar sem pestanejar. Outra vez, os cânticos pela paz e os louvores em defesa da família repetidamente tomaram conta da avenida.


(Luiz Alberto Cassol / novembro de 2014.)

Responsabilidade e Respeito

Desde a fatídica madrugada de 27 de janeiro de 2013, fomos tomados por vários sentimentos. Perplexidade, dor, tristeza, mágoa, indignação e tantos outros.

Confesso que não sei direito expressar muito do que sinto. Tentar transformar em palavras foi a melhor forma nesse momento. Escrever esse texto é mais uma vez, um desabafo. Frases e impressões tomadas pelo sentimento do que percebo. Quero falar um pouco da cidade, do que aconteceu e de fatos. Aliás, quem sabe, tentar uma reflexão sobre muito do que está acontecendo.

Nesse período inominável, desde a terrível madrugada de 27 de janeiro, encontramos situações que causam perplexidade, para dizer o mínimo.

Por exemplo, vimos nas redes sociais pessoas se mobilizarem em uma cidade de outro estado, onde se falava em uma festa em homenagem as vítimas e também uma espécie de concurso para a criação de um memorial. Tudo o que li e vi estava equivocado. Por mais que as pessoas tivessem algum tipo de boa intenção é preciso um mínimo de senso. Não se pode ter como motivo o que aconteceu para simplesmente promover algo sem refletir sobre. Em primeiro lugar é preciso entender de que forma isso afetará as famílias, os amigos, os sobreviventes. Pelo que sei, as inúmeras postagens nas redes sociais contra a iniciativa fizeram com que não acontecesse.

Vejam, nós santa-marienses de nascença ou de opção – sempre de coração – ainda estamos meio perdidos. Estamos tentando dia a dia encontrar rumos. Sempre estaremos com esta tragédia em nossa história. Não negamos. Pelo contrário: estar em nossa trajetória passa a ser a única forma de homenagear quem partiu, elaborar nosso luto, buscar a apuração dos fatos através da justiça e que nefasto episódio nunca mais se repita.

Defendi e continuo defendendo que temos que pensar nas famílias que perderam seus filhos. Pais enterrarem filhos é contra a natureza. É estupidamente covarde para a linha natural da vida. Então, qualquer palavra, ação ou manifesto deve levar em conta, sempre, o que essas famílias estão passando. Pensar nelas é a principal atitude a ser tomada desde aquela madrugada.

Por isso a criação da Associação dos Pais e Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia em Santa Maria é uma atitude que merece todo o nosso apoio.

Homenagens e outras ações são necessárias. Mas reflita sobre tudo o que aconteceu antes de tomar qualquer iniciativa. Só assim o verdadeiro respeito e intenção serão entendidos e bem vindos.

Aqui, faço um pedido. Antes de se formular qualquer memorial lembrem das famílias. Tudo tem seu tempo. Usar o fato – seja qual for a intenção – para promover homenagens deve sempre passar por elas. Agora, com a Associação criada o diálogo com a mesma é a prerrogativa mais justa.

Ao encontro disso é meritoso o anúncio do Ministro Alexandre Padilha, sobre o início da terceira etapa da ação de atendimento aos familiares, amigos, sobreviventes e envolvidos na tragédia. O atendimento clínico e psicossocial será fundamental nos próximos anos.

Ter responsabilidade e consciência nos atos é básico neste momento. Omitir-se na reflexão e no que deve ser feito em respeito às famílias e à cidade, não pode estar entre esses atos.

Nesse caso cito o trabalho da polícia, que pelo que acompanho pela imprensa, tem sido notável na busca do real entendimento do fato. E mais: sempre com muito respeito às famílias.

Santa Maria irá recomeçar passo a passo. De forma solidária tentaremos suportar nossa irreparável perda e dia a dia teremos a tarefa de ir adiante, sem nunca esquecer o que aconteceu.

Aliás, muitos deveriam pensar assim e não se omitir nessa hora. Parece inacreditável que todos não tenham um único objetivo: elucidar os fatos, com dignidade e consideração ao que aconteceu e a cidade.

Encerro dizendo que me orgulho de ser santa-mariense. Uma cidade com quase 300 mil habitantes (cidade média por isso), com inúmeras opções (cosmopolita, então) - e cidade hospitaleira e sempre de braços abertos (daí um pouco do jeito de cidade pequena). Santa Maria, muitos sabem, é assim. Por isso nossa paixão.

Reforço ainda que a cidade em função de sua história tem alguns codinomes que nos orgulham muito: Cidade Cultura, Cidade Coração do Rio Grande e Cidade Universitária.
Esses nomes fazem parte de nossa identificação.

Aos poucos essas designações começam a ser relembradas. E com elas já está incorporado a cidade que viveu sua maior tragédia e que foi solidária na dor entre os seus. Que recebeu apoio de voluntários de todo o Brasil e também do exterior.

Agora é fundamental ratificar e retomar o exemplo que esta é uma cidade que age com responsabilidade e respeito. Ética, coragem e justiça sempre!



(Luiz Alberto Cassol / 01 de março de 2013)

Numa viagem ao passado

Numa viagem ao passado,
sinistramente Ettore não entenderia.
O capitão veria a cortina se abrindo.
Lá não estaria um leme com direção.
O tornado violento se translada na covardia da face oculta do engano.
Então, Scola, tentaria entender tudo aquilo que suas imagens, falas e tons mostraram. E o outro não entendeu.
Com experiência, pensaria a razão dele não entender.  
Refletiria que aquele usa não revelar. Usa artimanhas, caras e bocas. Sim. Sempre fora essa espécie.
O mestre pensaria. O ser não sabe laborar, vociferar. Tudo em silêncio o outro o faz. Sempre foi!  
Então gritaria Ettore Scola: salve A Viagem do Capitão Tornado!
E o fim. Aquele ficou de fora da trupe. Covardes estão fora. 


(Luiz Alberto Cassol / 28 de julho de 2014)

Então

Então, começou a sorrir.
Do riso veio o choro compulsivo. E jamais parou!
Findou?
Não sabe.
A dúvida fez com que calasse!
Não sabe.
A dúvida fez com que não quisesse.
Mas, queria!
Então, começou a entender.


(Luiz Alberto Cassol - 20 de julho de2014) 

No concreto

Texto publicado originalmente no sítio do jornalista Claudemir Pereira: www.claudemirpereira.com.br 


Sim! Parei. Alguns segundos e está tudo comigo. Atravesso a avenida com passos rápidos para mais uma reunião. Todos os arquivos necessários estão virtualmente na mochila. Vi a cena que dá início a essa crônica. Conto. Sem arquivos.

Uma mulher, longos cabelos presos por uma tiara, agachada frente a um muro de concreto. De longe não se movia. Estátua. Quando aproximo vejo as grades verticais. Uma cerca de concreto. Prossigo fechando meu olhar de decupagem. Pronto! Cheguei.

Olhar reto. Sem dúvidas. Mulher e homem separados por aquele desgraçado concreto. Silêncio. Não resisti e olhei mais uma vez. Continuavam ali, inertes. Silêncio absoluto. Ela de camiseta branca e jeans. Ele com o uniforme de uma empresa e um capacete azul. Calados.  Ao fundo uma obra com cerca de cinquenta pessoas que trabalham com o mesmo uniforme do rapaz. Os que estão próximos prosseguem vagarosamente suas funções. Sua atenção é como a minha. Sigo caminhando também vagarosamente. O que iria acontecer?

Elevador e uma hora e meia de reunião depois a curiosidade era mantida. O que vi é absolutamente irreparável, intocável. Não há palavras.  Minha estocada com letras é no vazio de um sentimento que perdi nesse tempo da reunião.

Então ela coloca o rosto por meio das vigas de concreto. Ele vira o capacete e repete o movimento dela. Assim se encontram.

Um beijo real, concreto e abismal.

Os aplausos dos colegas tomam conta do ambiente. Estou ali como um intruso idiota. Paro e aplaudo junto. Minha tarde termina para qualquer outro tipo de concentração. O resto será pró-forma.

Vida mesmo ficou ali naquele beijo no concreto.


(Luiz Alberto Cassol / 22 de setembro de 2013.)