domingo, 23 de novembro de 2014

Bradaram por todos os direitos e agora não defendem o principal: a Democracia!

(Publicado originalmente no site do jornalista Claudemir Pereira - www.claudemirpereira.com.br) 

Ficar no muro pode ser cômodo. Mas às vezes tu podes cair para um lado nada tranquilo, ideologicamente falando. Não. Não me refiro em um lado partidário. Escrevo sobre a ideologia de vida. Que é estar do mesmo lado desses seres raivosos e sem noção que pedem o retorno do regime militar e berram contra regiões do país.

Ficar vendo a vida passar e não tomar posição pode ser interessante para muitos. Mas, tem seu preço. Tem gente que fica no muro a vida inteira. Sobre qualquer assunto. Muita gente até tem opinião, mas prefere não tornar público. Discordo, mas respeito. Acho que cada um age da forma que julgar melhor. Outros se posicionam.

Nas eleições isso ficou muito transparente. Houve quem continuou no confortável murão e aconteceu de quem se mostrou. Tiveram posicionamentos mais exacerbados, outros menos. Eu defendi meu voto em Tarso e Dilma todo o tempo. O fiz com veemência, mas não faltei com o respeito a ninguém. E foi assim que agi com quem pensava o contrário.

Abre parêntese. Não sei se é natural, mas foi assim nessas eleições. Ficou evidente, só o fato de ter um lado fez com que muitos desfizessem as amizades virtuais ou reais. Se por um lado amizades foram desfeitas, por outro lado revelou quem não tolera ver a opinião contrária. Então é melhor desfazer a amizade do que agredir com todo o tipo de xingamento que se possa imaginar ter de ler.  Daí cabe a cada um tomar a decisão que supor necessária. De manter, ou não, a amizade nas redes sociais e na vida real.

Tive uma atitude na eleição. Postei o que julguei necessário em minha linha do tempo e não escrevi em postagens de outros que eram pró Aécio. Achei que seria um caminho certo. Hoje, tenho absoluta certeza que foi. Para ficar na eleição presidencial e no segundo turno, eu e milhares escolhemos a Dilma, e muitos outros, Aécio. Confesso que algumas pessoas que escolheram Aécio me surpreenderam, pois imaginava que pensassem de outra forma. No entanto, nosso respeito mútuo fez com que aceitássemos as postagens uns dos outros. Não ficando no famoso muro citado no início desse artigo. Fecha parêntese.

Depois da eleição um fato me incomoda muito nessas últimas semanas. Nas redes sociais durante o primeiro e o segundo turnos das eleições, teve gente se posicionando pelos direitos humanos, por benfeitorias sociais, pelo meio ambiente, por menos corrupção, mais saúde, mais educação e por aí vai.  Aliás, por tudo aquilo que a maioria de nós deseja.

Então, veio a contagem de votos e a presidenta Dilma se reelegeu para o regozijo de milhares de brasileiros e brasileiras. E, após eleita, democraticamente passa a ser a governante do Brasil. Isso é a democracia.

Após isso, começou uma enxurrada de mensagens repletas de ódio e preconceito aos nordestinos postados nas redes e em manifestações pontuais nas ruas.

Em paralelo, alguns seres humanos pedindo a volta do regime militar. Fomos capazes de ver em uma matéria televisiva a insanidade de um homem erguendo um cartaz pedindo “intervenção militar” e, logo atrás, uma mulher segurando outro cartaz onde estava escrito “quero dizer o que penso”. É a cena mais patética que vi numa tela de televisão. Num regime militar não tem “o que penso”. Tem o que eles pensam e cumpra-se!

Então, volto a minha análise: a maior parcela – grifo que não estou dizendo todos - que votou na Dilma se posicionou contra esses atos.

Pois bem, para minha surpresa, muitos que votaram no Aécio e que escreviam nas redes sociais, ou seja, tinham posição, agora não escreveram uma linha sequer contra isso. Grifo muitos, não todos. Não sei se ficaram sem graça, se foi o fato de o candidato ter sido derrotado. Realmente não sei.  Não! Não me tire para fiscal. É fato. Em minha percepção muitas pessoas que votaram no Aécio não pactuam com tais postagens raivosas, e penso que não se sintam a vontade para agora escrever.  Talvez o motivo que tangencie essa postura é ser adverso a quem venceu a eleição. Todavia se Dilma venceu no voto, na urna e na democracia porque os eleitores de Aécio não se revelam contra esses atos tristes, lamentáveis e senis?

Penso que o velho e bom muro foi a escolha de muita gente. Como falei no início cada um se comporta em uma eleição como quiser, eu respeito. O que não consigo entender é porque não houve uma enxurrada de pessoas pró Aécio que tivessem dito não a esses atos xenófobos e contra a democracia. 
Quero reiterar: os mesmos que se situaram nas redes sociais na época da eleição.

Acompanhei pessoas que bradaram por todos os direitos, mas que agora, de forma lamentável, não buscam defender o principal: a Democracia!!!


Luiz Alberto Cassol